quarta-feira, 21 de março de 2012

DIA MUNDIAL DA POESIA

Ruy Belo - Edição de 1970

*
ocaso, matéria para mais esquecimento
do fundo deste dia solitário e triste
após sucessivas quebras de calor
antes da morte pequenina celular e muito pessoal
natural como descer da camioneta ao fim da rua
neste país sem olhos e sem boca
in-ruy belo
*
Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncios e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades
in-Sophia de Mello Breyner
*
o Poeta
Trabalha agora na importação
e exportação. Importa
metáforas, exporta alegorias.
Podia ser um trabalhador
por conta própria,
in-Nuno Júdice
*
Eram, na rua, passos de mulher.
Era o meu coração que os soletrava.
Era, na jarra, além do malmequer,
espectral o espinho de uma rosa brava..
in-david mourão-ferreira
*
O meu país sabe a amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar
in-eugenio de andrade
*
mas as suas palavras
já não eram mais do que
símbolos de uma língua estranha,
falada por outras criaturas .
in-jaime rocha
*
Onde ficava o mundo?
Só pinhais, matos, charnecas e milho
para a fome dos olhos.
Para lá da serra, o azul de outra serra
e outra serra ainda.
E o mar? E a cidade? E os Rios
in-fernando namora.
*
não me perguntes quem sou. não me perguntes nada.
eu não sei responder a todas as perguntas do mundo.
in-jose luís Peixoto
*
A magnólia,
o som que se desenvolve nela
quando pronunciada,
é um exaltado aroma
perdido na tempestade,
in-luiza neto Jorge
*
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.
in-maria teresa horta
*
Floriu assim pela primeira vez.
Deu-lhe um sol de noivado,
E toda a virgindade se desfez
Neste lirismo fecundado.
in-miguel torga
*
outros seres de passagem, outros rasos
destinos sem anjo para o remorso.há flores,
dirás, algumas flores diurnas, confiantes, que
outras mãos hão-de dispor na jarra, relembrada
junto à parede branca, mas essas são um ténue
sopro de acasoou fulgor antecipando outra nudez.
in-vasco graça moura .
*
A minha casa... Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.
in-vitorino nemésio.
Filhos dum deus selvagem e secreto
E cobertos de lama, caminhamos
Por cidades,
Por nuvens
E desertos.
Ao vento semeamos o que os homens não querem.
Ao vento arremessamos as verdades que doem !
in-ary dos santos
*
Os meus olhos são uns olhos.
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.
in- antónio gedeão
*
Fiei-me nos sorrisos da Ventura,
Em mimos feminis. Como fui louco!
Vi raiar o prazer; porém tão pouco
Momentâneo relâmpago que não dura
in-bocage
*
Pobres, gritai comigo:
Abaixo o D. Quixote
com cabeça de nuvens
e espada de papelão!
E viva o Chicote
no silêncio da nossa Mão
in-josé gomes ferreira
*
vai até onde ninguém te possa falar
ou reconhecer - vai por esse campo
de crateras extintas - vai por essa porta
de água tão vasta quanto a noite
in-al Berto
*
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!
in-Alexandre O'Neill
*
Eu falo das casas e dos homens,
dos vivos e dos mortos:
do que passa e não volta nunca mais...
in-Casais Monteiro
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que vivam os Poetas e a Poesia

sábado, 3 de março de 2012

Ai . . . Solidão !

vem frustração
ai  . . . solidão ! 
vida irreal
ávida, voraz
intencional
sem pão, nem paz,
tempo vendido
lei do mercado
euro perdido
crédito parado,
com sofrimento
vem, frustração
deslumbramento
ai  . . . solidão !
palavras e fotos:poetaeusou