Ruy Belo - Edição de 1970
*ocaso, matéria para mais esquecimento
do fundo deste dia solitário e tristeapós sucessivas quebras de calorantes da morte pequenina celular e muito pessoalnatural como descer da camioneta ao fim da ruaneste país sem olhos e sem bocain-ruy belo*Quando a pátria que temos não a temosPerdida por silêncios e por renúnciaAté a voz do mar se torna exílioE a luz que nos rodeia é como gradesin-Sophia de Mello Breyner*o Poeta
Trabalha agora na importaçãoe exportação. Importametáforas, exporta alegorias.Podia ser um trabalhadorpor conta própria,in-Nuno Júdice
*Eram, na rua, passos de mulher.Era o meu coração que os soletrava.Era, na jarra, além do malmequer,espectral o espinho de uma rosa brava..in-david mourão-ferreira*O meu país sabe a amoras bravasno verão.Ninguém ignora que não é grande,nem inteligente, nem elegante o meu país,mas tem esta voz docede quem acorda cedo para cantarin-eugenio de andrade*
mas as suas palavras
já não eram mais do que
símbolos de uma língua estranha,
falada por outras criaturas .
in-jaime rocha
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Onde ficava o mundo?Só pinhais, matos, charnecas e milhopara a fome dos olhos.Para lá da serra, o azul de outra serrae outra serra ainda.E o mar? E a cidade? E os Riosin-fernando namora.*não me perguntes quem sou. não me perguntes nada.eu não sei responder a todas as perguntas do mundo.in-jose luís Peixoto*A magnólia,o som que se desenvolve nelaquando pronunciada,é um exaltado aromaperdido na tempestade,in-luiza neto Jorge*Como é possível perder-tesem nunca te ter achadominha raiva de ternurameu ódio de conhecer-teminha alegria profunda.in-maria teresa horta*Floriu assim pela primeira vez.Deu-lhe um sol de noivado,E toda a virgindade se desfezNeste lirismo fecundado.in-miguel torga*outros seres de passagem, outros rasosdestinos sem anjo para o remorso.há flores,dirás, algumas flores diurnas, confiantes, queoutras mãos hão-de dispor na jarra, relembradajunto à parede branca, mas essas são um ténuesopro de acasoou fulgor antecipando outra nudez.in-vasco graça moura .*A minha casa... Mas é outra a história:Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,Sentado numa pedra de memória.in-vitorino nemésio.Filhos dum deus selvagem e secretoE cobertos de lama, caminhamosPor cidades,Por nuvensE desertos.Ao vento semeamos o que os homens não querem.Ao vento arremessamos as verdades que doem !in-ary dos santos*Os meus olhos são uns olhos.E é com esses olhos unsque eu vejo no mundo escolhosonde outros, com outros olhos,não vêem escolhos nenhuns.in- antónio gedeão*Fiei-me nos sorrisos da Ventura,Em mimos feminis. Como fui louco!Vi raiar o prazer; porém tão poucoMomentâneo relâmpago que não durain-bocage*Pobres, gritai comigo:Abaixo o D. Quixotecom cabeça de nuvense espada de papelão!E viva o Chicoteno silêncio da nossa Mãoin-josé gomes ferreira*vai até onde ninguém te possa falarou reconhecer - vai por esse campode crateras extintas - vai por essa portade água tão vasta quanto a noitein-al Berto*Amigo é uma grande tarefa,Um trabalho sem fim,Um espaço útil, um tempo fértil,Amigo vai ser, é já uma grande festa!in-Alexandre O'Neill*Eu falo das casas e dos homens,dos vivos e dos mortos:do que passa e não volta nunca mais...in-Casais Monteiro********que vivam os Poetas e a Poesia